da janela do ônibus

mercredi 13 février 2008

já disse aqui que prefiro o ônibus ao metro. é mais colorido, menos cheio e bem menos claustrofóbico. a sensação é um pouco como se eu estivesse fazendo um city-tour, de estar passeando e não só me transportando de um lugar pra outro. só deixa de ser divertido quando está cheio e o casaco da senhora do meu lado exala um cheiro forte de naftalina ou alguém tosse na minha cara (que mania de não colocar a mão na frente da boca!), mas bom, no geral as viagens são super agradáveis.

as duas linhas que passam aqui do lado de casa são ótimas: a 38 e a 68. a primeira leva pro luxembourg, para a île de la cite, centro antigo da cidade, pro marais, pro pompidou... a 68 leva pra saint-germain, musée d’orsay, louvre, palais royal, operà.

n.a: a 68 tem um dos pontos de ônibus mais bem situados do mundo. pra voltar da aula do louvre nas quintas-feiras à noite, espero o ônibus entre a pirâmide e o arco do carrossel (um mini arco do triunfo), com o jardim de tuileries logo atrás, a torre iluminada lá no fundo...é paris em toda sua grandiosidade, e é lindo de morrer.

mas enfim, o highlight das duas linhas é a travessia do rio. fico lá sentadinha esperando sempre essa hora especial, em que o horizonte se abre, existe mais luz, e é possível ter vistas amplas e lindas de boa parte da cidade. eu já tenho bancos preferidos em cada trecho, dependendo se estou indo ou voltando, se é de noite ou de dia. e me emociono todas as vezes, sem brincadeira.

sempre achei que era coisa de “novata”, de quem cresceu numa cidade meio feiosa e pouco harmoniosa como são paulo. mas eis que, outro dia, pra minha alegria e pra aumentar minha crença na humanidade, reparei que os parisienses, apesar de durões, também ficam ansiosos com esse momento.

muito discretamente, é claro, pq aqui ninguém mostra fácil que está feliz ou que é meio “molenga”, mas sim, reparei que eles também se mexem no banco, procuram entre as cabecinhas dos outros passageiros a melhor janelinha para ver paris. olham pra um lado, pro outro, se maravilham.

um alivio saber que eles tem consciência de que é uma cidade especial que merece momentos diários de contemplação. mesmo que, rapidamente, antes que alguém perceba que eles estão satisfeitos, eles voltem a ler seus livros, revistas, ou aos seus resmungos rotineiros.



ps.sol sem nuvens há uma semana. tá lindo demais. ufa!